quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A Quebra de Maldições é Bíblica?

Rev. Augustus Nicodemus Lopes

Uma das tendências do movimento de “Batalha Espiritual” é adicionar à obra de Cristo uma complementação feita por peritos em maldições. É ensinada claramente a necessidade de se quebrar as maldições hereditárias e de se anular compromissos que ficaram pendentes com o diabo, mesmo após a pessoa ter sido convertida a Cristo. Ensina-se que herdamos as maldições que acompanharam nossos antepassados, por causa de seus pecados e pactos demoníacos, e que precisamos anulá-las.
Êxodo 20 e Ezequiel 18
Geralmente o texto usado para defender este ponto é Êxodo 20.5, em que Deus ameaça visitar a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração dos que o aborrecem. Entretanto, ensinar que Deus faz cair sobre os filhos as conseqüências dos pecados dos pais, é só metade da verdade revelada.
A Escritura nos diz igualmente que se um filho de pai idólatra e adúltero vir as obras más de seu pai, temer a Deus e andar em seus caminhos, nada do que o pai fez virá a cair so­bre ele. A conversão e o arrependimento individuais "quebram", na existência das pessoas, a "maldição hereditária" (um efeito somente possível por causa da obra de Cristo). Este foi o ponto enfatizado pelo profeta Ezequiel em sua pregação ao povo de Israel da época (leia cuidadosamente Ezequiel 18). A nação de Israel havia sido levada em cativeiro para a Babilônia, e os judeus cativos se queixavam de Deus dizendo "Os pais come­ram uvas verdes e os dentes dos filhos é que se embotaram...” (Ez 18.2b) - ou seja, "nossos pais pecaram, e nós é que sofre­mos as conseqüências". Eles estavam transferindo para seus pais a responsabilidade pelo castigo divino que lhes sobreveio, que foi o desterro para a terra dos caldeus. Achavam que era injusto que estivessem pagando pelo pecado de idolatria dos seus pais. Usavam um provérbio da época, que nos nossos dias seria mais ou menos assim: "Nossos pais comeram a feijoada, mas nós é que tivemos a dor de barriga...”.
Através do profeta Ezequiel, Deus os repreendeu, afir­mando que a responsabilidade moral é pessoal e individual di­ante dele: "A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai... " (Ez 18.4b, 20). E que pela conversão e por uma vida reta, o indivíduo está livre da "maldição" dos pecados de seus antepassados (ver 18.14-19). Esta passagem é muito importante, pois nos mostra de que maneira o próprio Deus interpreta (através de Ezequiel) o significado de Êxodo 20.5. Ou seja, o segundo mandamento prevê a visitação do juízo divino sobre os descendentes de homens ímpios, descen­dentes estes que aborrecem a Deus como seus pais. Várias passagens no próprio Pentateuco deixam claro que a retribui­ção divina sobre os filhos dos que aborrecem a Deus é desconti­nuada a partir do momento em que estes filhos se arrependem de seus próprios pecados, e os confessam a Deus, confessando igualmente os pecados de seus pais, como Levítico 26.39-42.
Encontramos a mesma idéia em Nm. 14.13-34. Nesta passagem vemos claramente como a misericórdia e a longanimidade de Deus atuam em conjunto com sua justa ira contra os rebeldes e pecadores. Após a revolta do povo de Israel contra Deus, inflamados pelo relato desanimador dos dez espias incrédulos, o Senhor Deus condenou aquela geração incrédula a perecer no deserto. Seus filhos haveriam de levar sobre si as infidelidades de seus pais, até que estes morressem (v.33), após o que, os filhos entrariam na terra (v. 31). Aplicando aos nossos dias, fica evidente que o crente verdadeiro já rompeu com seu passado e com as implicações espirituais dos pecados dos seus antepassados, quando, arrependido, veio a Cristo em fé.


Rev. Augustus Nicodemus Lopes