quarta-feira, 17 de março de 2010

Características geológicas colocam o Ceará entre as áreas brasileiras de maior sismicidade

Falhas induzem terremotos




O Ceará possui duas falhas geológicas ativas, que o colocam dentro da região de maior sismicidade do País, junto com o Rio Grande do Norte. Aqui as duas rachaduras na placa tectônica não têm ligação uma com a outra: uma passa pela Região Norte e outra pelo Vale do Jaguaribe, estendendo-se até o litoral.

As duas áreas também são as mais ativas no Nordeste. Tanto que o tremor de maior magnitude já registrado na Região foi no município cearense de Palhano, em 1980, com 5,2 graus na escala Richter.

Praticamente todo dia as estações sismográficas distribuídas no Estado registram tremores. A maioria é de baixa magnitude e intensidade. Mas é comum, em algumas cidades, as pessoas sentirem os abalos com uma freqüência maior.

Isso acontece porque as falhas produzem movimentos laterais nas zonas deformadas. A explicação é simples: “a natureza está viva”. A justificativa é do professor do curso de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Afonso Rodrigues de Almeida. Segundo ele, o Ceará possui várias falhas geológicas, mas duas têm mais atividade: a de Sobral a Pedro II (Piauí) e a de Icó a Juazeiro do Norte. Uma outra, em Senador Pompeu, também é ativa, mas em menor proporção.

Na Região Norte, a falha geológica passa por vários municípios, como Sobral, Camocim, Acaraú. A outra abrange Aiuaba, Saboeiro, Orós, Iguatu, Icó, Nova Jaguaribara, Limoeiro do Norte, Palhano, Pereiro.

Segundo o Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), referência no setor no País, há cidades cearenses que somam milhares de tremores.

Em Palhano, no Vale do Jaguaribe, ao longo de três anos, foram registrados mais de 25 mil abalos. Em 1988, após pequenas atividades sísmicas recorrentes, houve tremor de 4,2 pontos. Já em Hidrolândia, no espaço de um ano, foram contabilizados três mil abalos. Em Chorozinho, em oito anos, foram 30 mil.

Junto com Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, o Ceará faz parte da Província de Borborema, a mais afetada por sismos no Nordeste. O recorde em recorrência foi em João Câmara, no Rio Grande Norte. Em sete anos de monitoramento, foram 50 mil tremores. Em Sobral, em 1989, o número de sismos, em seis meses, chegou a 100 e, neste ano, em menos de dois meses, a 630.

Fortaleza não está perto das falhas, mas não significa que a cidade esteja livre de tremor. Prova disso é que, de tempos em tempos, são registrados sismos na Capital. Sutis, mas são tremores. Em geral, essas ocorrências são reflexo da movimentação da placa tectônica Sul-Americana, cuja falha geológica passa pelo Jaguaribe.

Conforme explica o doutor em Geofísica pela Universidade de Kiel (Alemanha) e professor da UFC, David Lopes de Castro, as falhas catalizam a energia propagada em forma de ondas elásticas e liberada com as movimentações. “Quando essas ondas chegam à superfície, certos lugares tremem. No ar, a onda se propaga a mais de 300 metros por segundo”, detalha.

Como afirma o geofísico, a placa Sul-Americana está sob tensão constante. Entre a Africana e a Sul-Americana, a agitação é de um a três centímetros ao ano; entre a Nazca e a Sul-Americana, são de cinco a dez centímetros. “O Ceará está em constante risco sísmico. Se acontece um sismo em uma região, em 50 a 100 anos acontecerá outro”, diz.

TRAGÉDIA ANUNCIADA?
Escritura em pedra coincide com temor

Quando o Dnocs ainda era Inspetoria de Obras contra as Secas (Iocs), em 1910, já havia estudos para se construir, na Região Jaguaribana, um açude que pudesse represar a água da chuva e distribuí-la pelo Estado, através do Rio Jaguaribe.

Com essa missão, naquele ano foi enviado para o local o engenheiro Roderic Crandall, consultor do então Iocs. Sua estada naquela região ainda hoje é envolta em mistérios. Ele se abrigou em uma caverna onde hoje se encontra a tomada d´água do Castanhão. Passou dias e noites estudando a área, o solo, as rochas, a localização, o curso do rio. O período foi tão intenso que o espaço ficou conhecido como a Caverna do Doutor ou Buraco do Doutor.

Quando estavam sendo feitas escavações para a construção do açude, nessa espécie de gruta, foi achada a pedra cujas inscrições intrigam moradores da região e até quem trabalhou na obra. Como uma mensagem ou profecia, a rocha foi encontrada com inscrição, no mínimo, curiosa: “Região São Salvador/ Caverna do Mistério/ Obra do Fim dos Tempos/ 1893”. Pela data, o engenheiro já teria encontrado a pedra com a inscrição. Portanto, não se sabe quem poliu a mensagem. Mais de um século depois, hoje a pedra se encontra exposta no ‘showroom’ do açude.

A imponência do Castanhão, independentemente dos abalos, surpreende. Costuma-se dizer que, ali, o sertão realmente virou mar. Mas além da água, que não faz a margem do Rio Jaguaribe desaparecer, há mais a se conhecer.

Quatro famílias moram na área residencial do açude, totalizando 20 pessoas. Outros 40 seguranças trabalham dia e noite no Castanhão. São 12 supervisores e 28 vigilantes que atuam em 12 quilômetros de extensão.

Uma média de 40 a 50 pessoas por dia visita o açude. São estudantes de escolas, de universidades, cearenses, turistas. No local, o Portal do Castanhão foi construído para abrigar lojas de prefeituras, mas o espaço está desativado.

O Castanhão possui três diques fusíveis, para o caso de as comportas não suportarem o volume de água da vazão. Se isso acontecer, é previsto que os diques sejam abertos — na verdade, destruídos, porque eles são como barragens menores sem comportas.

A área do açude abriga, ainda, uma vila de pescadores com 50 casas, construídas pela Prefeitura de Alto Santo. Eles moravam em casas sem propriedade na área hoje inundada, inclusive no trecho de 30 quilômetros da BR-116 que foi engolido pelo açude.

PROTAGONISTA
Temores

Joaquim Chaves, 66, mecânico

O medo de que tremores, como os de Sobral, ocorram no Vale do Jaguaribe é constante. A população teme que os sismos, que já acontecem na área, afetem a estrutura do Castanhão e provoquem um acidente

Fonte:Diario do Nordeste.

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